segunda-feira, 25 de abril de 2011

Chroma

Primeiro, ela escolheu se chamar Chrome. Pensou que soava bem, que transmitia bem a idéia que ela queria e exemplificava seus poderes. Essa era metade da importância do nom de guerre de um mutante, não era? Explicar seus poderes antes que precisassem perguntar. Na primeira semana, soube através de um militante dos direitos mutantes que já existia um Chrome, um já falecido capanga de Magneto. Querendo se distanciar de qualquer relação com aquele homem assustador, ela decidiu se chamar Chroma, o que trazia (pelo menos para ela) um certa sensação de empoderamento feminino.

Ela sempre teve dificuldades em decidir o que fazer da vida. Sem muitos sonhos ou grandes paixões, nem mesmo com traumas e dificuldades extremos, ela seguia pela vida na pista do meio, sem grandes excessos. Era uma vida que não era nunca mais nem menos, uma vida monótona e confortável, mais uma pessoa na multidão. Ela não sabia dizer, hoje, se gostava ou não daquela vida que seguia. Só que quando a revelação chegou, as coisas espiralaram fora de controle e não tinham mais volta. E era tudo culpa dela.

Um dia, no bar com os amigos de faculdade, ela serviu todos de cerveja e colocou a garrafa de volta na mesa. Alguns minutos depois, comentaram que a garrafa estava vermelha. Isso levou a meia dúzia de comentários, uns mais alarmados que outro, e outra garrafa veio. Mais tarde, em seu apartamento, ela ouviu um grito vindo do banheiro. Era sua amiga, que passara a noite dormindo no sofá e ao se olhar no espelho, viu que seu cabelo estava azul. Foi quando ela descobriu que era Chroma - possuía a habilidade mutante de mudar a cor das coisas.

Claro, uma mutação tão pequena podia ser ocultada se fosse controlada. Mas vendo na TV todos aqueles homens e mulheres uniformizados, como eles pareciam tão acima dos problemas mundanos que ela enfrentava sonolenta dia-a-dia, ela se decidiu. Não seria só uma mutante, seria uma mutante uniformizada, uma super-heroína.

As boas intenções de Chroma não deram muito certo. Seu poder primeiro ajudou com a confecção do uniforme - era só juntar as pessoas que queria e depois mudar as cores ao seu bel prazer. Após alguns dias rodando pela cidade em seu novo uniforme e recebendo mais atenção masculina do que nunca (ela nunca se achou muito bonita, mas aparentemente colantes e decotes tinham esse efeito), ela encontrou o primeiro crime em que se intrometeu - um assalto a uma farmácia. Felizmente eles não tinha armas. Ela foi empurrada para o lado, tentou perseguir os ladrões, ficou sem fôlego mais rápido que esperava. Não teve a chance de mudar a cor de nada. Mas perseverou em seu objetivo de se tornar um símbolo de alguma coisa através de suas ações e poderes. Ajudou um policial a impedir um estupro, ainda sem mudar a cor de coisa alguma. O policial, apenas um pouco mais velho que ela, recomendou que ela entrasse para a força policial ou procurasse um dos grupos de ajuda mutantes da cidade. Ela não gostou das sugestões e continuou nas suas patrulhas, até interromper um assalto a mão armada. Chroma nunca teve nenhum treinamento de defesa pessoal ou artes marciais, mas dessa vez ela pensou no que fazer. Saltou pela porta, a capa segura firme nas mãos, balançando-a enquanto trocava as cores da mesma com velocidade estonteante e se movia rápido na direção de seu alvo, seu vilão. O show de cores atordoou o homem por tempo suficiente para o soco de Chroma atingi-lo em cheio. Ela tomou a arma dele, eufórica, e apontou para o mesmo para que não se movesse. Nervosa e sem nenhuma prática com armas de fogo, ela atirou sem querer.

Presa por homicídio, com a faculdade interrompida, Chroma não tinha muito mais o que fazer na cadeia a não ser praticar seus poderes de mudança de cor (ela ainda não conseguia mudar as cores de algo que não estivesse tocando, por exemplo) e se manter viva.

Faltando dias para ser liberada, ela não fazia idéia do mundo que encontraria lá fora ou do que faria quando saísse. Ela era só uma menina que mudava cores.

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